quinta-feira, 5 de novembro de 2009

50 graus: Uma Odisséia em Prudente


Já se passaram quatro dias do jogo entre Palmeiras X corinthians e não cabe mais escrever sobre tal evento, até por que quem foi ao estádio Prudentão(recuso-me a escrever o nome original do estádio que homenageia um calhorda cujos seus desserviços ao futebol são incontáveis) não tem condições de analisar muito bem a partida. Turva, indefinida e parcial, era assim a visão de quem esteve nas arquibancadas do estádio Prudentão,a sensação térmica era de cinquenta graus, muita gente gente tendo que ir ao ambulatório, filas enormes para se jogar um pouco de água no rosto e no corpo, um sol tão intenso que afugentava qualquer nuvem ousada que ameaçasse chegar-lhe perto.
Este era o cenário para um jogo de futebol envolvendo duas das mais importantes equipes do país, um cenário surreal digno de Luís Buñuel. É desumano exigir um bom futebol de qualquer jogador nestas situações, ainda mais quando se ignora o inútil horário de verão e seja mantido o horário global das 16 horas da tarde. Este jogo é um símbolo de como a CBF está rendida á emissora Globo, esta que não se importa nem um pouco com os torcedores que vão ao estádio e está inventando horários indecentes e impróprios. Clubes, jogadores e torcedores reclamam mas nada fazem para que isto mude.
Os clubes também estão reféns da Globo, alguns já tiveram que pedir sua verba adiantada do campeonato do ano que vem para pagar dividas, dependem desta receita para não atrasarem (muito) o salário de seus funcionários e acham que não podem (ou não conseguem mesmo) negociar valores maiores ou mesmo com outra emissora. Os jogadores tem um sindicato ineficiente e omisso que só aparece em ocasiões oportunas e os atletas muitas vezes não sabem como recorrer a este sindicato, ao clube ou outra instituição que poderia lhe prestar assistência, além do que são desunidos e muitas vezes tem medo de se indispor no meio, ficar "marcado" e desta maneira sem mercado, preferem engolir a seco suas reclamações. Já as torcidas tem força e mobilização para conseguir falar diretamente com jogadores, diretores e até mesmo presidentes dos clubes mas em assunto que é tão importante e lhes atinge de forma direta não se pronunciam, parece que nem se preocupam, protestam contra o time que está medíocre mas não em ter que pagar cinquenta reais para enfrentar quarenta graus de calor ou em ter que voltar para casa pé por que o jogo acabou depois do horário que o metrô parou de funcionar.
Assim como na religião, no futebol muita gente se aproveita do fanatismo das pessoas, é muito mais fácil explorar alguém que está cego pela paixão. O individuo fanático, que está cego, faz tudo que está ao seu alcance para poder estar perto do seu objeto de veneração, o torcedor de futebol não é diferente, passa fome, vai trabalhar de bicicleta mas não deixa de ir ao jogo do seu time de coração.
Se os atores deste cenário tomarem consciência perceberão que se os jogadores decidirem não jogarem não haverá campeonato, se os torcedores não forem ao estádio pode haver jogo mas não terá graça, se os clubes decidirem não esperar a novela acabar para poder entrar em campo as máquinas param e quando isto acontecer algo vai ter que ser feito, alguém vai ter que ceder, existe uma dezena de emissoras que gostariam de deter os direitos de transmissão dos jogos, o poder para mudar está com os clubes, os jogadores e os torcedores, não na Globo e nem na CBF.

Vlado Galli

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